As construtoras norte-americanas desaceleraram o ritmo de novos projetos em abril, em meio a tarifas comerciais impostas pelo governo Trump e à crescente apreensão com a economia. Segundo dados divulgados na sexta-feira pelo US Census Bureau e pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, o início de obras de residências unifamiliares caiu 12% em relação ao mesmo mês de 2024, em termos ajustados sazonalmente.
As permissões para novas construções também recuaram: houve queda de 5,1% em comparação com março, e de 6,2% na comparação anual. Esses indicadores reforçam um cenário de cautela por parte das construtoras, que enfrentam custos crescentes e uma demanda mais fraca.
“A incerteza política em Washington está deixando as construtoras cautelosas e elas estão sentindo que o público vê que este não é o melhor momento para estar no mercado para uma nova casa, a menos que você esteja desesperado”, afirmou Chris Rupkey, economista-chefe da FWDBonds.
A situação é agravada por taxas de hipoteca ainda elevadas e pela escassez de imóveis à venda, o que compromete a acessibilidade. Economistas alertam que uma paralisação prolongada na construção pode piorar esse cenário.
As tarifas comerciais aplicadas por Trump em abril – que chegaram a até 50% sobre cerca de 60 parceiros dos EUA – impactaram diretamente os custos dos materiais de construção. Embora algumas taxas tenham sido reduzidas, como a imposta à China (de 145% para 30%), os preços já haviam subido. Estima-se que, em 2024, cerca de 7% dos materiais usados na construção nos EUA foram importados.
“A única certeza é que este não é o momento de construir ou comprar uma nova casa”, disse Rupkey.
A Associação Nacional de Construtores de Casas (NAHB) estima que 60% das construtoras relataram aumento ou expectativa de aumento nos preços por parte de fornecedores, e muitas pequenas empresas não conseguem repassar os custos aos compradores. “Isso pode significar ainda menos casas construídas no futuro”, avaliou Ivy Zelman, analista da Zelman & Associates.
A percepção negativa também chegou aos compradores. “A maior objeção que vimos é que as pessoas se sentem desconfortáveis com a incerteza da economia”, relatou Roddy MacDonald, gerente da Stonegate Builders. “O desejo de comprar está lá, mas pessoas com alguma renda discricionária estão em compasso de espera.”
Apesar disso, o setor de construção multifamiliar seguiu forte em abril, com aumento de 28% nas obras iniciadas em comparação ao ano anterior. Esse crescimento, no entanto, pode ser temporário, já que os projetos costumam ser planejados com antecedência e com materiais já adquiridos.
Emily Hubbard, cofundadora da Sage Investment Group, que transforma hotéis subutilizados em apartamentos acessíveis, afirma que antecipou os impactos das tarifas. “Começamos a ajustar nossa cadeia de suprimentos logo após a eleição de Trump”, explicou. A empresa garantiu os preços de materiais com fornecedores como a Home Depot ainda em 2024, evitando maiores prejuízos. “Seremos capazes de entregar 2 mil unidades habitacionais este ano por causa disso.”
Ainda há expectativa de recuperação. Para Nanayakkara-Skillington, da NAHB, “os recentes desenvolvimentos na frente tarifária em relação ao Reino Unido e à China, juntamente com a importante legislação tributária que avança no Congresso, devem impulsionar a demanda por moradias e um impulso positivo para a economia.”
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Informações retiradas de Samantha Delouya ao CNN