O perfil de quem compra ou pretende comprar imóvel no Brasil mudou. É o que revela a mais recente pesquisa Raio-X FipeZAP. O levantamento traça uma nova fotografia do mercado, destacando transformações nos hábitos, motivações e escolhas dos compradores.
Se antes o sonho da casa própria parecia movido mais pelo desejo, agora ele se tornou uma decisão mais racional, pautada pelo planejamento e pelas condições financeiras. O dado mais expressivo ainda aponta o uso próprio como principal objetivo, representando “85% dos entrevistados que pretendem comprar”, embora este seja o menor percentual desde 2019.
Ao mesmo tempo, cresce o interesse na compra como investimento, que atinge “15%, uma das maiores taxas desde 2014”. E, dentro desse grupo, a motivação dominante não é mais a expectativa de valorização para revenda, mas sim a busca por “geração de renda via aluguel”.
Por outro lado, quando se observa quem efetivamente comprou nos últimos 12 meses, a fatia de investidores caiu para “33%, a menor da década”. Um indício claro de que, apesar do desejo, o preço ainda é um obstáculo.
A percepção de que os imóveis estão caros é quase consenso. “73% dos entrevistados consideram os preços altos ou muito altos”, afirma o levantamento. Essa percepção tem impacto direto nas negociações: “66% das compras foram fechadas com desconto”, com reduções médias de cerca de 10% sobre o valor anunciado. Apesar disso, a expectativa de valorização é tímida: apenas “3,2% nos próximos 12 meses” em termos nominais.
Outro dado relevante é a mudança no formato de moradia. A maioria dos compradores tem como objetivo dividir o imóvel com alguém. “Entre os que compraram, 62% têm esse perfil. E entre os que vão comprar, o número sobe para 73%”. Esse comportamento reflete também uma tendência entre os mais jovens, que preferem começar a vida adulta no aluguel e adiar a compra da casa própria.
A idade média de quem concretiza a compra subiu. Hoje, “67% dos compradores têm mais de 50 anos”, sinalizando que o acesso ao imóvel próprio está cada vez mais associado à maturidade financeira, estabilidade e renda mais alta.
E quando se fala em preferência, o imóvel usado se destaca. “75% dos que compraram no último ano optaram por usados”, um dos maiores índices da série histórica. Já entre os que ainda pretendem comprar, “92% aceitam imóvel usado ou são indiferentes”. A escolha não é necessariamente uma questão de preferência, mas sim de custo-benefício.
O que se desenha é um mercado mais cauteloso, consciente e estratégico. Se antes o jovem casal buscava um primeiro apartamento logo no início da vida a dois, hoje esse movimento é postergado — seja por incertezas econômicas, pela busca de estabilidade ou pela priorização de outros projetos.
O mercado imobiliário segue aquecido, mas de forma diferente. A lógica da valorização rápida perdeu espaço para uma mentalidade mais centrada no uso e na sustentabilidade financeira. O imóvel continua sendo um sonho — só que, agora, um sonho que precisa caber no orçamento, no planejamento e, sobretudo, na realidade.
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Informações retiradas de Michael Viriato a Folha de São Paulo