O investimento brasileiro no mercado imobiliário da Península Ibérica está ganhando fôlego. Após anos marcados pela compra de imóveis residenciais, movida pela busca por segurança e afinidade cultural, agora o movimento avança para uma nova etapa: a incorporação.
Portugal e Espanha têm se mostrado destinos atrativos, tanto pelo apelo turístico quanto pela estabilidade econômica e fluxo migratório relevante. Segundo a consultoria Colliers, os dois países figuraram entre os 20 mercados que mais receberam investimento estrangeiro em 2024.
Além do potencial de retorno, pesa também a proteção patrimonial em moeda forte. O capital brasileiro tem chegado por meio de pessoas físicas, family offices, incorporadoras e veículos de investimento estruturados por instituições como o BTG Pactual.
A demanda é tamanha que, em 2023, a CBRE criou uma área de cross-border dedicada ao Brasil. Desde então, o interesse na região não para de crescer. Atualmente, 40 dos 120 clientes brasileiros com perfil internacional estudam investir € 900 milhões na Península: € 500 milhões em Portugal e € 400 milhões na Espanha.
“O segmento de living foi o que mais recebeu investimentos na Península em 2024”, afirma Miguel Moraes Palmeiro, diretor da CBRE. “Para o brasileiro, a área também faz sentido porque é mais fácil de entender do que outras, que possuem mais especificidades regionais.”
Mas o entusiasmo esbarra em entraves locais. A tão criticada burocracia brasileira encontra paralelo na Europa. “É preciso ter resiliência processual e realizar os investimentos em parceria com players locais, que possuem conhecimento de mercado”, pontua Palmeiro.
Um incorporador brasileiro sugere cautela: “Um bom caminho é começar como sócio minoritário, para ter um período de aclimatação ao novo mercado.” Segundo ele, há diferenças importantes: “Há algumas limitações em relação ao que estamos habituados no Brasil.
“O acesso a financiamento também tem um processo de aprovação complexo e só é bom para quem tem contatos. Não tem sacanagem, mas é bairrista.”
Durante evento do GRI Club em Madri, o tema foi destaque entre investidores ibéricos e latino-americanos. “Além de ter um parceiro local, é preciso trabalhar com arquitetos e empreiteiros que já têm experiência na cidade onde vai ficar o empreendimento”, alertou um investidor português.
Segundo ele, o maior gargalo está na aprovação de projetos: “É o maior risco do setor e torna o time to market complicado de se prever. Além disso, um projeto precisa ter 10% de buffer para possíveis acordos judiciais. Melhor pagar uma eventual multa do que esperar o processo correr.”
Apesar dos desafios, os brasileiros já começam a deixar sua marca, com a introdução de mais amenities e formatos como condomínios fechados — tendência ainda pouco comum na Península. “No centro de grandes cidades, o foco é em condomínios de apartamentos. Em zonas mais afastadas, condomínios de casas. Outras opções são hotéis e casas de segunda residência em destinos turísticos.”
Lisboa, Madri, Porto, Algarve, Comporta e a ilha dos Açores estão no radar dos investidores — essa última sendo considerada uma das grandes apostas para os próximos anos.
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Informações retiradas de Matheus Padro ao Metro Quadrado