A tensão entre moradores e turistas na Espanha não é nova, mas tem ganhado novos contornos com o avanço do turismo de massa. Para conter os efeitos do chamado overtourism, o governo espanhol tem adotado medidas cada vez mais rigorosas em diferentes regiões do país.
Na Catalunha, as taxas para visitantes foram elevadas. Nas Ilhas Canárias, o número de turistas passou a ser limitado. Já em cidades como Málaga, vestimentas inadequadas começaram a render multas, enquanto em Ibiza e Maiorca foram criadas regras específicas para o consumo de álcool. Tudo isso reflete uma tentativa de equilibrar o setor turístico com a qualidade de vida dos residentes.
Segundo projeção divulgada pelo Google em parceria com a Deloitte, a tendência é que o fluxo de turistas siga crescendo. Até 2040, a Espanha pode ultrapassar a França e se tornar o destino mais visitado do mundo. No entanto, esse possível novo posto não virá sem conflitos.
Nesta semana, o governo espanhol anunciou a retirada de mais de 65 mil imóveis de aluguel de curta temporada da plataforma Airbnb. As remoções se concentraram em regiões como Madrid, Andaluzia e Barcelona. De acordo com o ministro dos Direitos dos Consumidores, Pablo Bustinduy, as propriedades não estavam devidamente registradas e apresentavam inconsistências nos cadastros oficiais. “Sem mais desculpas. Aqueles que lucram com a moradia em nosso país não serão mais protegidos”, afirmou o ministro, ao justificar a decisão como parte de um esforço para combater a “falta de controle” e a “ilegalidade” nesse tipo de hospedagem.
A Airbnb rebateu as alegações. Um porta-voz da empresa afirmou que o ministério não apresentou provas concretas sobre as irregularidades e que parte dos imóveis sequer era destinada ao turismo. Além disso, a plataforma questionou a autoridade do ministro para regulamentar o setor e anunciou que vai recorrer da medida.
O embate se dá em meio a uma crise habitacional que se arrasta há anos na Espanha. A alta no valor dos aluguéis, impulsionada pela preferência de muitos proprietários por locações mais lucrativas a turistas, agrava o problema. Em cidades turísticas, como Barcelona, a situação é especialmente crítica. Por isso, em 2023, a prefeitura local revelou um plano ambicioso: eliminar 10 mil anúncios de curta temporada até 2028, a fim de priorizar moradores de longa permanência.
A origem da crise remonta a 2010, quando a bolha imobiliária aumentou a oferta de imóveis além da demanda. Desde então, o acesso à moradia tem se tornado cada vez mais difícil para os cidadãos. Dados oficiais mostram que, em novembro de 2024, havia cerca de 321 mil imóveis com licença para aluguel de temporada – um aumento de 15% em comparação com 2020. O número real, no entanto, pode ser bem maior, considerando os imóveis que operam sem autorização.
No fim de 2023, após pressão do Ministério do Consumidor, a Airbnb declarou que exige de seus anfitriões o cumprimento das normas locais e a devida permissão para locações de curta duração. Mesmo assim, a fiscalização segue sendo um desafio para as autoridades.
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Informações retiradas de CNN Brasil