Poucos nomes no Brasil têm o peso de Andreas Blazoudakis quando o assunto é inovação. Um dos cérebros por trás de sucessos como Movile e iFood, Andreas agora mira sua expertise em um dos setores mais tradicionais do país: o imobiliário. Como fundador e CEO da Netspaces, sua missão não é simplesmente digitalizar, mas construir uma ponte segura entre a tecnologia blockchain e o secular sistema de cartórios brasileiro.
Em uma conversa exclusiva com o Papo Imobiliário, realizada durante o Blockchain Real Estate Summit 2025 na última sexta-feira, o executivo revelou a estratégia que coloca a Netspaces em uma rota diferente da tendência global, sempre com o corretor de imóveis no centro da equação.
Papo Imobiliário: A Netspace tem apostado em soluções digitais para transformar o mercado imobiliário. Como você enxerga o papel da empresa nesse momento e qual é a maior inovação que vocês estão vivendo?
Nosso papel primordial, neste início de mercado, é conectar as matrículas dos imóveis ao mundo digital. Observamos que, no cenário internacional, a tokenização frequentemente ocorre à margem do sistema registral, apesar de sua existência secular. Contudo, não acreditamos nessa abordagem para o Brasil. Nosso sistema registral é sólido e bem estabelecido, com milhares de zonas de registro.
Portanto, entendemos que nosso papel é fazer o movimento inverso. Em vez de simplesmente tokenizar a matrícula, nós levamos o token – que é a inovação – para a tradição, que é a matrícula em papel. Em outras palavras, nós matriculamos o token. Este ato de registrar o ativo digital na matrícula física nos proporciona uma percepção de segurança jurídica muito grande, pois estamos fazendo a inovação se adequar à tradição. Com isso, obtemos o melhor dos dois mundos: a segurança do papel no cartório, que passa a conter em sua averbação o registro do token, e a agilidade do digital.
Esse processo inicial é análogo à instalação de um sistema operacional. Ao pegar um computador novo, é preciso instalar o Windows ou o macOS; em um celular, o Android ou o iOS. Somente após a instalação do sistema é que podemos começar a usar os aplicativos. Da mesma forma, uma vez que a “matrícula do token” está estabelecida, iniciamos a segunda etapa: desenvolver os “aplicativos” para as transações imobiliárias. Estamos transportando para o ambiente digital mais de 50 tipos de operações que o mercado já utiliza, como compra e venda, permuta, doação, financiamento e home equity.
Papo Imobiliário: Você pode nos contar um pouco sobre a parceria da Netspaces com a CF Inovação?
Como mencionei, a tokenização no mundo muitas vezes transformou o imóvel em um mero produto de investimento, ignorando a matrícula e, consequentemente, a posse, a gestão e a relação com corretores e imobiliárias. Isso gerou muita apreensão nesses profissionais.
No Brasil, decidimos seguir o caminho que consideramos mais correto: fazer essa transformação junto com o corretor, com o CRECI e com as imobiliárias. Foi um desafio significativo, pois se listamos um imóvel sozinhos, a imobiliária nos vê como concorrentes; se pedimos que ela o faça, ela pode alegar desconhecimento da tecnologia blockchain.
Foi nesse cenário que nosso caminho cruzou com o da CF Inovação. Nós vínhamos do setor de tecnologia e das incorporadoras em direção aos corretores; eles vinham dos corretores em direção às incorporadoras. Percebemos que estávamos nos encontrando no meio do caminho.
Dado o caráter altamente estratégico dessa união, uma simples parceria seria muito frágil. Por isso, decidimos criar uma Joint Venture, que é uma sociedade formal entre as duas empresas em um terceiro CNPJ. Desta união nasceu a Index (goindex.io), um marketplace para o qual as duas companhias aportam seus ativos e expertises, enquanto permanecem independentes.
O objetivo é dar conforto e segurança ao corretor. Implementamos um processo inverso: em vez de pedir que ele insira seus clientes em uma nova plataforma, nós levamos os imóveis diretamente para o seu WhatsApp. Assim, ele pode enviar os imóveis a seus clientes a partir de sua própria ferramenta de trabalho, como se tivesse sua própria loja virtual. Essa abordagem que respeita sua carteira de clientes é o motivo do grande sucesso que estamos vendo, com mais de 10.000 corretores na fila para acessar a plataforma.
Papo Imobiliário: Pegando esse gancho, a tokenização ainda é um tema muito novo. O que vocês pretendem fazer para atrair e educar mais investidores, corretores e incorporadoras?
Partimos do princípio de que não adianta querer vender se o mercado não está educado. Por isso, estamos assumindo um novo e formal papel de educadores. A primeira grande iniciativa nessa direção é que a Netspace passou a ser a organizadora oficial do Blockchain Real Estate Summit.
Queremos deixar claro para o mercado que estamos aqui para ensinar. Vocês verão uma série de colaborações e conteúdos educativos sendo gerados. Teríamos, inclusive, um prazer enorme em estabelecer parcerias com veículos como o Papo Imobiliário, criando uma via de mão dupla: enviando nosso conteúdo a vocês e recebendo o de vocês para nossa comunidade. O papel educacional é, sem dúvida, uma chave para nós neste momento.
A conversa com Andreas Blazoudakis deixa claro que a estratégia da Netspaces vai muito além da simples aplicação de uma nova tecnologia. Trata-se de uma filosofia que enxerga o futuro sem desrespeitar o passado. Ao “matricular o token” e colocar o corretor como protagonista da transformação digital, a empresa não está apenas criando uma plataforma, mas cultivando um ecossistema baseado em segurança, parceria e conhecimento. A aposta na educação como alicerce e a criação de alianças estratégicas, como a Joint Venture Index, sinalizam um caminho paciente e sólido, que pode, de fato, construir as bases para um mercado imobiliário brasileiro mais ágil, transparente e acessível para todos.
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