Durante anos, o setor imobiliário foi um dos principais motores da economia chinesa. Impulsionado por políticas estatais e uma intensa urbanização, o país assistiu ao surgimento de inúmeros empreendimentos residenciais. No entanto, esse ciclo de crescimento começa a se desfazer, revelando um cenário de imóveis desocupados, queda nos preços e desequilíbrios urbanos.
De acordo com levantamento da Business Insider, cerca de “65 milhões de residências estão abandonadas no país”. O número expõe os efeitos de uma crise que combina desaceleração econômica, endividamento das incorporadoras e a baixa confiança dos consumidores.
Desvalorização e retração no setor
Dados da consultoria E-House, com base no Departamento Nacional de Estatísticas da China, indicam que os preços dos imóveis caíram “4,8% em 2024 na comparação anual”. A tendência de queda deve se acentuar, segundo uma pesquisa da Reuters, que projeta uma retração de “4,8% nos preços em 2025”, mais intensa que os “2,5% previstos anteriormente”. Para 2026, a expectativa de crescimento foi revista para estagnação.
Além disso, as vendas continuam em declínio, com previsão de queda de “5% em 2025”. Já os investimentos no setor devem recuar “8,4%, acima da queda de 7% estimada anteriormente”, sinalizando um enfraquecimento persistente.
O avanço das cidades fantasmas
A crise não se limita às cifras. Ela ganha forma nas chamadas cidades fantasmas — bairros inteiros com prédios recém-construídos, largas avenidas e infraestrutura moderna, mas praticamente sem moradores. Províncias como Inner Mongolia, Hebei, Henan e Liaoning concentram alguns dos exemplos mais emblemáticos.
Esses vazios urbanos refletem um desequilíbrio entre a oferta desenfreada e uma demanda que não se concretizou. Projetos foram erguidos com base em previsões otimistas de crescimento e migração interna que não se confirmaram. Parte significativa dos imóveis foi adquirida como investimento, e não para moradia, agravando o cenário de desocupação.
Desafios estruturais e soluções ainda tímidas
O problema também afeta diretamente as finanças locais. A venda de terrenos, que representa uma das principais fontes de receita municipal, despencou. Esse quadro limita os recursos das autoridades para manter e revitalizar esses espaços.
Ao mesmo tempo, a China enfrenta um desafio demográfico relevante: a população urbana envelhece e o crescimento populacional desacelera, diminuindo ainda mais o potencial de ocupação desses imóveis.
Diante desse contexto, o governo tem sinalizado alternativas. Uma delas é transformar parte dos imóveis vazios em moradias populares ou centros comunitários. “Governos locais estão adquirindo terrenos para aliviar a pressão sobre as incorporadoras e concluir projetos paralisados”, informam autoridades. Apesar disso, as ações permanecem isoladas e com efeito limitado na reversão do problema.
Enquanto não surgem soluções estruturais mais abrangentes, os bairros vazios se tornam o retrato mais visível de uma crise que conecta desafios econômicos, sociais e urbanísticos na segunda maior economia do mundo.
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Informações retiradas de Exame