A elevação da taxa Selic para 14,75%, anunciada pelo Banco Central na última quarta-feira (7), acendeu um sinal de alerta no mercado imobiliário. Apesar do cenário desafiador, o setor segue aquecido, sustentado por bons resultados e forte demanda, especialmente nos grandes centros urbanos.
Segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o primeiro trimestre de 2025 registrou crescimento de 17% nas vendas de apartamentos. Foram financiadas 109 mil unidades habitacionais por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), o que representa um aumento de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, os lançamentos recuaram 7%, refletindo uma postura mais cautelosa das incorporadoras diante do ambiente macroeconômico.
A alta da Selic impacta diretamente o crédito imobiliário. A cada ponto percentual de aumento na taxa básica, as taxas dos financiamentos sobem, em média, 0,43 ponto. Isso pressiona principalmente a classe média, que depende do crédito para realizar o sonho da casa própria.
“Quem precisa financiar um imóvel acima de R$ 500 mil hoje está adiando a compra ou optando por unidades menores”, afirma Luciano Amaral, CEO da Benx. A incorporadora, que atua tanto no segmento econômico quanto no de alto padrão, percebe um consumidor mais seletivo e com tempo de decisão mais longo — de dois a três meses, em média.
Cautela no setor
O Índice de Confiança do Empresário da Construção, também divulgado pela CBIC, encerrou abril em 47,2 pontos — o menor patamar desde julho de 2020. O dado reforça a prudência do setor diante da alta dos juros, que pode encarecer o crédito e comprometer o ritmo de lançamentos.
Ainda assim, o mercado não parou. Segundo Ely Wertheim, presidente executivo do Secovi-SP, levantamento com mais de 60 empresas paulistas mostrou aumento de 50% nos lançamentos e crescimento de 5% nas vendas no primeiro trimestre. Para ele, a Selic elevada não é suficiente para barrar projetos de vida como a compra da casa própria.
“Não é a Selic que muda um projeto de vida como o da casa própria, especialmente quando o financiamento imobiliário, por contar com recursos da poupança, mantém taxas ainda abaixo da Selic”, afirma. “Hoje, quem compra um imóvel de classe média alta paga de 11% a 12% ao ano, abaixo da taxa básica, o que configura juro real negativo”, completa.
Essa diferença ocorre porque cerca de 80% do crédito imobiliário é lastreado na poupança, que tem rendimento médio de 3% ao ano. Apenas 20% estão diretamente atrelados à Selic. Com isso, segundo Wertheim, o impacto maior está na percepção do consumidor, não no crédito em si — pelo menos no curto prazo.
Comprar ou esperar?
Com os juros elevados, a dúvida sobre o melhor momento para comprar imóvel volta à pauta. Especialistas alertam que a valorização dos imóveis, especialmente em capitais como São Paulo, deve continuar. “Quem compra para alugar também se beneficia, pois os aluguéis estão subindo acima da inflação”, aponta Wertheim.
Para quem já comprou ou está prestes a comprar, a recomendação é avaliar se vale mais amortizar ou investir o dinheiro disponível. “Com taxas de financiamento abaixo da rentabilidade de muitos investimentos, quem tiver dinheiro em mãos, vale mais aplicar do que quitar o imóvel”, diz Wertheim. A exceção, segundo ele, está nos casos em que há descontos expressivos para quitação antecipada.
Outra recomendação é aumentar o valor de entrada, escolher prazos mais curtos e optar pelo Sistema de Amortização Constante (SAC), que reduz os juros ao longo do tempo. O uso do FGTS a cada dois anos para amortização e a portabilidade do financiamento para outra instituição quando a Selic começar a cair também são estratégias indicadas para reduzir o custo total da dívida.
Perspectivas
Mesmo com inflação pressionando os custos da construção, menor disponibilidade de recursos da poupança e um ciclo de juros altos, o setor deve seguir em movimento. A demanda habitacional segue aquecida, especialmente em cidades como São Paulo, que atraem estudantes, profissionais e pacientes do chamado turismo médico.
“A sociedade brasileira vê o imóvel como investimento seguro, além do valor afetivo e da segurança patrimonial”, diz Luciano Amaral. Para ele, o setor continuará se adaptando ao cenário, com planejamento e foco em estratégias que mantenham o mercado em atividade.
“A conjuntura econômica, com desemprego em baixa e renda subindo, não deve fazer as pessoas desanimarem”, reforça o executivo da Benx.
Dicas para quem vai comprar imóvel:
- Aumente a entrada: quanto maior o valor dado de entrada, menor o financiamento e os juros pagos.
- Prefira prazos menores: reduz o custo total do financiamento.
- Escolha o sistema de amortização adequado: o SAC costuma ser mais vantajoso em tempos de juros altos.
- Use o FGTS a cada 2 anos: reduz o saldo devedor e o prazo total.
- Considere a portabilidade: troque de banco quando a Selic começar a cair e busque melhores condições.
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Informações retiradas de Anna França ao InfoMoney