Após anos de ciclos econômicos voláteis que restringiram o acesso ao financiamento imobiliário, a Argentina experimenta uma forte recuperação neste setor, com perspectivas de crescimento substancial. Espera-se que os bancos do país emitam cerca de US$3 bilhões em crédito imobiliário em 2025, um aumento impressionante de 260% em relação ao ano anterior, segundo a consultoria local Empiria. O aumento no crédito tem impulsionado a demanda por moradias, refletindo uma reviravolta positiva no mercado imobiliário argentino.
Esse crescimento está diretamente ligado às reformas implementadas pelo presidente Javier Milei, que tem trabalhado para estabilizar a economia do país. A redução da inflação de três dígitos e a diminuição dos custos dos empréstimos – especialmente a redução das taxas de juros de 133% para 29% desde sua posse – fortaleceram a confiança dos investidores e consumidores. Como resultado, os bancos voltaram a atuar como credores tradicionais, facilitando o acesso ao financiamento imobiliário.
Em Buenos Aires, as vendas de imóveis garantidos por hipotecas triplicaram em 2024, atingindo cerca de 5.000 transações, conforme dados de uma associação local de cartórios. O mercado de crédito imobiliário, que havia desaparecido após a crise econômica de 2018, agora está experimentando uma recuperação robusta, com uma sólida demanda por imóveis tanto novos quanto usados.
“Eu estava resignado a morar de aluguel pelo resto da minha vida”, disse Juan Pablo Rotger, economista de 29 anos, que viu sua situação mudar após conseguir um financiamento de US$156.000 do Banco Santander em outubro de 2024. Com o empréstimo, ele e sua esposa compraram um apartamento de US$200.000 em Acassuso, um subúrbio da província de Buenos Aires. “A mudança de destino de Rotger se deve ao fato de que a inflação diminuiu consideravelmente, de 25% ao mês para pouco mais de 2%, e os salários reais estão se recuperando”, explicou o economista.
A recuperação do mercado imobiliário tem sido impulsionada por uma série de fatores econômicos que colaboraram para aumentar a confiança do consumidor. A redução da inflação, a estabilização da moeda e a recuperação do poder de compra são aspectos que fazem com que mais argentinos se sintam seguros para assumir compromissos de longo prazo, como um financiamento imobiliário.
Porém, a transformação do mercado também é consequência das mudanças nas práticas bancárias, que agora utilizam o sistema de unidades UVAs (Unidad de Valor Adquisitivo). O valor do empréstimo é ajustado diariamente pelo Banco Central para levar em conta a inflação, garantindo que os bancos se protejam contra a volatilidade do peso argentino. As taxas de juros para esse tipo de empréstimo variam entre 3,5% e 8,5%, dependendo da instituição financeira e da quantidade de recursos disponíveis para empréstimos. A aplicação das UVAs oferece um modelo de financiamento atrelado à inflação, uma tentativa de mitigar a alta volatilidade da moeda local.
Em 2024, a recuperação da confiança dos consumidores foi impulsionada por uma mudança nas práticas econômicas, com os bancos se afastando dos investimentos em títulos do governo e se concentrando em áreas como o financiamento imobiliário e o crédito ao consumidor. “Quando oportunidades como essa aparecem na Argentina, a história nos ensinou que elas também podem desaparecer muito rapidamente”, comentou Rotger, ciente de que a estabilidade econômica é algo volúvel no país.
Além disso, os empréstimos não estão ao alcance de todos. Os bancos exigem que os tomadores de crédito tenham empregos formais, o que restringe o acesso para a metade da população que trabalha de maneira informal. Isso limita o número de argentinos que podem se beneficiar do financiamento, gerando um teto para a expansão do crédito imobiliário.
Porém, o otimismo continua, e muitos argentinos veem o financiamento imobiliário como uma oportunidade rara. “Esses empréstimos não teriam sido feitos se o governo não tivesse conseguido reduzir a inflação”, afirmou Rotger, demonstrando confiança nas reformas econômicas do presidente Milei. Mesmo com os desafios econômicos e fiscais que persistem, o mercado imobiliário continua a ser visto como uma opção segura, especialmente com as vendas realizadas em dólares, protegendo os investidores da volatilidade da moeda local.
Investidores como Augusto Rocca, que comprou um apartamento de 70 metros quadrados no bairro de Colegiales, em Buenos Aires, por US$143.500, também compartilham dessa visão positiva. “Estou otimista com a forma como o governo está lidando com a economia”, afirmou Rocca, que acredita que a estabilidade econômica ajudará a manter os pagamentos mensais acessíveis, com sua hipoteca representando 78% de juros, ou 756 pesos mensais.
O financiamento imobiliário na Argentina tem mostrado um retorno promissor, mas os desafios continuam, especialmente em um país com uma economia volátil e uma história de crises cambiais. No entanto, à medida que os argentinos se adaptam às condições atuais, o mercado imobiliário oferece uma promessa de estabilidade em meio à incerteza econômica.
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Informações retiradas de Kevin Simauchi ao Bloomberg Linea