A dificuldade das famílias brasileiras em manter as contas em dia, incluindo parcelas de financiamentos imobiliários, tem impulsionado o crescimento dos leilões de imóveis no país. Esse cenário preocupa especialistas e expõe os desafios enfrentados por quem não consegue honrar os compromissos financeiros.
Nas grandes cidades, o mercado de leilões de casas, apartamentos e terrenos tem registrado um crescimento expressivo em 2024, superando diversos setores da economia. Segundo a advogada especializada em direito imobiliário Natália Roxo, o aumento no número de imóveis leiloados é alarmante.
“A gente teve um cenário devastador de um aumento de 80% no número de leilões. Então, do mesmo jeito que tínhamos em 2018, por mês, 200 imóveis loteados em um edital de leilão, agora a gente tem de 800 a 1.000. É um procedimento bem rápido e direto. Se a gente falar, na ponta da lei, o primeiro passo seria notificar a dívida e, depois de 15 dias, se você não paga a dívida integral, se for citado corretamente, a gente já tem a consolidação registrada na matrícula e após 60 dias para o leilão acontecer. Então a gente está falando que, dentro de um semestre, você perde o imóvel”, explica Roxo.
Números em alta
Os dados mostram o impacto dessa tendência. Em 2022, cerca de 9 mil imóveis foram a leilão. No ano seguinte, o número subiu para 26 mil. Apenas no primeiro semestre de 2024, 44 mil imóveis já haviam sido leiloados — um volume maior que a soma dos dois anos anteriores. Os descontos atraentes para os compradores contrastam com o drama de quem perde suas propriedades.
Embora os leilões representem oportunidades de negócio, eles também marcam o desfecho de histórias de perdas para famílias que não conseguiram quitar financiamentos, taxas de condomínio ou impostos. Economistas apontam que esse crescimento reflete um cenário mais amplo de fragilidade econômica.
“Sem dúvida, o que nós temos é a visão de que a saturação da capacidade de pagamento das dívidas acontece de maneira sistemática e difundida, com impactos no país como um todo. Isso já foi mensurado em outras crises imobiliárias”, analisa Maria Paula Bertran, professora de Direito Econômico da USP.
Endividamento em níveis críticos
O Brasil vive uma crise de endividamento familiar. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo mostram que quase 80% das famílias estão endividadas. Bertran alerta sobre os riscos de assumir compromissos financeiros fora da realidade orçamentária.
“Tenham a certeza de só assumir compromissos financeiros que sejam perfeitamente encaixados no seu orçamento. Num país com tanta informalidade como o Brasil, com ciclos de economia curtos e contratos de financiamento longos, os problemas acontecerão”, acrescenta a especialista.
O peso da perda
A dona de casa Daniela Maya Lemos sentiu na pele o impacto dessa crise. Ela e o marido perderam a casa da família em um leilão.
“Era a minha casa, era o meu lar. É onde a gente construiu, trabalhou para ter aquilo lá. Foi tudo planejado, foi tudo contado e de uma hora para outra você perde tudo”, lamenta Daniela.
O aumento no número de leilões expõe a necessidade de cautela e planejamento financeiro, além de uma maior atenção às políticas públicas para mitigar os impactos da inadimplência no setor habitacional.
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Informações retiradas de G1